quisera conseguir que de mim se fora o amor – ou isso que eu chamava amor e era outra coisa, ou esta coisa que não sei chamar e ainda permanece em mim, intocada. com minhas próprias unhas arranquei nacos de minha alma nua, para sobreviver à vida com entranhas e poesia. então veio a loucura. escavei um abismo em meu deserto vazio, verti meu sangue e minha esperança, num sonho que eu julgava infindo, me atirei no abismo para afogar as mágoas e envenená-la com meu pior veneno. mas a areia não drenou meus tormentos, nem foi remédio para minhas feridas e morri uma vez. depois vaguei pelo meu mundo, à sua procura, mas encontrei apenas arquipélagos povoados de demônios, terras dentro de mim que eu não conhecia, medo, um lado sombrio de solidão impronunciável, frio e a ausência dela, rugindo em tormenta sobre meus sentimentos, minha força foi meu pior momento, porque dela veio toda a sua infinita fúria, só me restava ser fraco e me deixar morrer pela segunda vez, uma pobre criatura – sobretudo quando a vi em companhia e ao alcance de minha mão havia apenas fantasmas de uma lascívia vã, insípida e escorregadia. fugi para o mar de meus devaneios e invoquei o pior dos curandeiros, o mais cruel dos feiticeiros, para advir uma materialidade qualquer, em meu desespero renunciei ao espírito, eu queria apenas libertar-me em carne, configurar-me em morte, ainda que tardia. uma morte que me arrancasse das mortes anteriores e me restituísse àquilo que era meu e eu não sabia. mas a terra se me negou e na algaravia das ondas meu destino amarrou-se a guias, cegos por natureza e de vida bravia. condenei-me sísifo ou prometeu, quem saberá o que seria. eis a minha sina, lembrar-me dela todos os dias.
há muitas léguas meus olhos
não viam o cais de meus vícios
ódio amor sexo
maré quase perfeita
em meus dias de tédio
mas a pedra em que tudo batia
deu ao céu um manto vermelho
não houve trégua
de tanto mar
tal sangue
entre as ondas o vento cerzia
minha sina nas tábuas
o sal purgando o azul
e a vida que me vinha
há muitas léguas meus olhos
não viam o cais de meus vícios
ódio amor sexo
maré quase perfeita
em meus dias de tédio
mas a pedra em que tudo batia
deu ao céu um manto vermelho
não houve trégua
de tanto mar
tal sangue
entre as ondas o vento cerzia
minha sina nas tábuas
o sal purgando o azul
e a vida que me vinha
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home