quarta-feira, outubro 04, 2006

lúdico e simples vejo a minha primavera que se afasta quando setembro chega, e a minha juventude tardia cansada de indagar se resigna, não há nada mais a dizer, nem mesmo “vem”. mas, como partir o amor sem adeus, somente a golpes de machado para um fogo que trepida e não mais aquece. meu coração cansou de preces. nosso canteiro se cobriu de ervas daninhas e quem diria que este universo que eu julgava nosso era apenas meu? seu corpo coberto de pétalas lavradas em noites de amor, agora é pasto de bestas. e o que posso dizer? que nossos dias de sol nunca serão traídos? nunca serão enganados? na originalidade das palavras que desenhei em seu corpo e que agora lhe são gastas, os versos evanescem na beleza, beleza que era completa, por isso sublime, por isso divina, cuja vaidade da carnalidade derrubou os anjos do céu, e agora de olhos enormes contemplo o breu, nada mais desejo. quando percebo teu rosto sem olhos, teu corpo sem toques, pois coberto, tua nudez de mim se perdeu no silêncio de girassóis. vago escondido da minha bem amada que eu não sei bem se amei. por isso me condeno ao degredo e vivo apenas uma estação, sem outono, sem inverno, sem primavera e sem verão.

hetaera esmeralda

na estrada intransitável de setembro
batem os cascos seus olhos pequenos
num bocejo recém acordada a bela ensaia
pele talhada a noitadas cegas na sina obscena

se na paixão homicida a discórdia embebida
em seu sangue o mais doce do mel
feita para ser amada do mesmo amor
que não aparecia na casa que tinha em seu eu

nos escombros de sua morada a erva daninha
em seu inferno ninguém adivinha porque viu
noutros olhos à esquerda perdida
na selva de cinzas de um amor ateu