quinta-feira, maio 28, 2009


aus dem leben der marionetten, bergman

milonga del angel

busco escapar um momento
haverá maneira haverá tempo
me enrosco na casca desta trama
no engano da repetição do discurso do drama de mim mesmo

por várias vezes já quis deixar de ser para não ouvir o retinir alheio
talvez eu complique o mundo para sustentar o vazio
por várias vezes terminei o pleito
a luta desarmada contra a beleza

desorganizo um momento e olho o mundo
a cortina de fumaça separando os seres
ironicamente azul
inspiro a brasa e pergunto à espera
quanto tempo falta
descanso o acaso abandonando uma idéia qualquer para beber um gole
e redescobrir rastros

dentre toda desarmonia sorrio satisfeito de meu estratagema
mas ainda há um instante antes há tempo de dizer seu nome
aquela sensação tão dada aos momentos de expectativa

enfim ela chega

me estende a mão sem sorrir
eu sorrio por dentro
salto ao fundo do mundo com meu espeto de pau
por fora sou outro
frio e difícil manter o calor distante da crosta de gelo
temo a superfície
esmago as borboletas de meu estômago uma a uma entre o polegar e o indicador
ela pede um copo
eu rosno diante do absoluto

não inicio assunto
preparo o desdito ante qualquer tentativa de conclusão
a melodia é tempo

ela abrasa o cigarro segura no canto da boca
desnuda a mão num estalar de dedos
unhas vermelhas
imagina a mão
entre a sensação e a razão incompreendida
o entendimento é algo do qual a minha imaginação não conhece limites

ela rodeia rápido
pratica a multiplicidade num cerco dança por todos os lados
palavras e dedos
tamborilo velozmente e invento ápices sofisticados de autores inexistentes
inútil
depois de três goles sou doutra competência
o gelo se derrete
meu carcomido cadáver ideológico deixa marcas de relaxos
desespero de cumplicidade e de segredos
seus dedos vermelhos ou a rosa cheia de veneno
seu sangue o ar da graça do meu desejo
seu desejo qualquer desejo

o tráfego em mim é a busca da trama cujo riso ofusca o meu eco de delírio
que sentido teria ser um canto qualquer numa janela aberta
querer a rima rica o suor forte em cascata
jorro de mentiras desgraçadas
desgraçado amor
fácil vem o vento nas cortinas
páginas e páginas decepadas

desfazendo o brilho dos botões
centelhas em meus olhos
sapatos finos
caminho da felicidade às ancas
rijos mamilos que anunciam sua estrela rosada sob a relva clara
natureza calada que me pesa tantas pedras
em brasa seu corpo emergindo do chão
tremor dos espinhos na pele de pétalas
cortam mais que facas sua oração
vadio a sede de não poder a não ser rasgar mais e mais e achar sua fonte
infinito temporal que se desenha em gotas
maresia
sargaço
a ressaca em meu farol
navegando seus cabelos
não
seus pêlos de animal carente
pura como a mais pueril das putas
quente como a mais vil das virgens
meus golpes certeiros de ferreiro
pequena morte antropofágica

a manhã se faz diante dos olhos vermelhos
os olhos do ópio não seriam tão nus diante do espelho
nem tão vermelha esta nudez
se acendi um cigarro e gozei a fuga dos pensamentos foi
para não arcar com a gravidade nos seus seios o rio dos cabelos
a brasa pequena estrela rosa morta escondida entre as coxas e a seda que eu quis rasgar
só pelo espanto de nunca imaginar que a dor era o que eu desejava
confesso que a sua beleza sufocava
beirava a loucura e o receituário mais vil nesse jogo pérfido de fuçar entranhas
jaza encontrado o caminho da nudez

um dia adormeci e despertei
sob o jugo de uma certeza absoluta
nunca mais seria capaz da solidão
ao seu lado perdi a noção do tempo pior
me achei sem melodia
a melodia era agora silêncio

passei a me procurar nos bares
na fogueira fria de outros sexos
em quaisquer esquinas dos subúrbios
mas meu périplo era sua chama cega
o toque da sua pele
sua sutil rosa estrela veneno que embriagava e do qual eu procurava a fuga
mas a cada gole um novo ventre moldava sua carne crua e tornava vento as minhas palavras
de que valeria o coração se já não era o tempo de chuva
que dizer da poeira das estradas
os sapatos sem capacidade de dar nem mais um passo
a bulha das poças abalroando esquinas e errando todas as mulheres
eu que era impossível de errar
a vida um relógio atrasado de pegadas

se vermelho era o sexo era necessário tingir seu corpo à exaustão
afogar o desejo e dar só a relha sem cultivo para não macular a terra da planta irresistível e irreversível
bastava de flores
bastava de pétalas
bastava de espinhos enxergando erros por todos os lados
sombra de destino recompondo o tempo na melodia escrita nota a nota em sua pele
a pequena morte em sua pele o suor
a eterna morte e em meu coração descontrolado
o amor

4 Comments:

Blogger Ivan said...

esse poema está fudidaço,
mas (sempre tenho uns mas, é claro)
:

o verso "jaza encontrado o caminho da nudez"

não seria "jazia encontrado o caminho da nudez"
?

outra coisa:

a repetição do "sua pele" - não seria melhor controlar um pouco as saraivadas finais? (você sabe, essa é a hora da artilharia pesada - e quero crer que devem ser também as mais calculadas, medidas e meditadas...

por fim, que mal lhe pergunte:
quanto tempo faz que você escreveu este?

segunda-feira, junho 01, 2009  
Blogger Alexandre França said...

Ok...este poema é muito bom.

sexta-feira, junho 05, 2009  
Anonymous Anônimo said...

do modo como vc é otário... vc precisa de uma pessoa como bengala..... bloguilho de merda.... venha ver o que estou fazendo em morretes...... e na internet....
papai e mamãe tão bem??????
dando seguro!!!!!!!!!
como senpre!!!!!!!!
as mulheres que tenho .... vc nem imagina...
os poemas então?????
mais os parceiros.... parceiros....
na hora do bem e na hora do mal....

terça-feira, agosto 18, 2009  
Blogger Art in Shapes said...

Venho lendo seus poemas. E, por mais que tento lê-los pausadamente, sorvendo cada palavra e conceito, os debulho com uma velocidade insana. Encontrei aqui uma intensidade que sufoca e que me faz perder o fôlego. Visceral, angustiante, intenso. Me deu uma vontade de saber mais sobre vc - ainda faltam muitos posts para descobrí-lo! Grande beijo.

sábado, outubro 31, 2009  

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