segunda-feira, janeiro 10, 2011

sentado entre a gentalha no boteco
bebo uma cachaça de vinte e cinco centavos

à espera dum amigo tão fodido quanto eu
à espera dum inimigo que dê cabo disto
à espera duma megera pra esfolar-me a carne

dissipo ideias na fumaça do cigarro
que me alimenta as vísceras vazias
que à minha revelia teimam em viver

do fundo da cabeça me vem um noturno de chopin
num contraste obsceno
ao sertanejo que me estoura os tímpanos

tudo isso porque perdi a fé que nunca tive
porque me abandonei entre o restolho
e estas mãos magras que não pagam dívidas

tudo porque não pude ser divino nem sublime
e nunca soube ser um encantador de serpentes

enfadado planto no asfalto o passo inerte
me recuso o rumo de casa
me recuso a fretar esta carcaça

palavras pessoas mundo inútil que me fez fiasco
definitivamente agora entendo a solidão