sentado entre a gentalha no boteco
bebo uma cachaça de vinte e cinco centavos
à espera dum amigo tão fodido quanto eu
à espera dum inimigo que dê cabo disto
à espera duma megera pra esfolar-me a carne
dissipo ideias na fumaça do cigarro
que me alimenta as vísceras vazias
que à minha revelia teimam em viver
do fundo da cabeça me vem um noturno de chopin
num contraste obsceno
ao sertanejo que me estoura os tímpanos
tudo isso porque perdi a fé que nunca tive
porque me abandonei entre o restolho
e estas mãos magras que não pagam dívidas
tudo porque não pude ser divino nem sublime
e nunca soube ser um encantador de serpentes
enfadado planto no asfalto o passo inerte
me recuso o rumo de casa
me recuso a fretar esta carcaça
palavras pessoas mundo inútil que me fez fiasco
definitivamente agora entendo a solidão
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