quinta-feira, abril 19, 2007


dez

a primeira coisa em que pensei foi marta. eu nunca deveria ter acreditado em marta. mas marta acreditava em mim. enfim tentei levantar. a cabeça pesando, meus olhos vagando aonde eu não lhes podia encontrar. até que alguém pôs a porta abaixo. saltei o melhor que pude, mas em vão, me estatelei de encontro ao assoalho. alguém entrou no quarto de supetão, seguido por dois desconhecidos fardados – a princípio desconfiei se tratarem de policiais. mas, em que espécie de trama eu estaria metido? vasculhei a memória atrás de alguma lembrança, mas qual? só me lembro das atitudes uma atrás da outra até que... havia alguma coisa, alguém presente na memória, mas indistinguível da sombra de marta, seu sovaquinho e almíscar. diabos. de alguma forma eu precisava sair daquela situação. mas como? pensei num plano ousado, mas daria certo? alguém escancarou a janela com um esgar de nojo, um dos fardados me atirou sobre a cama. alguém falou: - fulano de tal? que resposta seria correta? eu pretendia ignorar a situação, que sabia eu do que estava acontecendo? maldita marta. alguém se insinuou nas minhas defesas. minha cabeça girava mais e mais, tentei controlar a gosma que jorrou feito um vulcão de minhas entranhas, atingindo em cheio a camisa de alguém que não resistiu e também se entregou à golfada, no que foi acompanhado pelos dois fardados. era a minha chance! mancando o melhor que pude empreendi fuga, sabia que eles eram rápidos. passei zunindo pela porta e escapei escada abaixo. nunca a liberdade me soou tão bem como o vento nos ouvidos. eu precisava encontrar uma saída, e sabia que a resposta só poderia estar com marta. mas, onde estaria marta? eu precisava descobrir.

onze

a melhor maneira era tomar uma atitude e provar que a aranha escuta pela perna, que cabelo quando cai pela raiz não nasce mais. tranqüilo que nem uma vaca resolvi voltar ao local do crime e provar minha inocência. dei várias voltas na mesma quadra, cumprimentando pessoas diferentes, só para desmarcar quaisquer presenças alheias. marta podia ser esperta, mas eu era mais esperto ainda. a melhor maneira de se esconder é aparecendo. sim, agora eu estava raciocinando. a questão é que depois de passar várias vezes no mesmo lugar e cumprimentar pessoas diferentes, cheguei à conclusão de que estava andando em círculos, no fim já não havia pessoas diferentes. era preciso admitir: eu estava cansado, e acabei enganando a mim mesmo. o desespero secava minha garganta. até que tudo me pareceu claro como um enigma. a solução era o problema, eu devia é deixar que as pessoas diferentes passassem por mim, essa seria a camuflagem perfeita. eu ganharia tempo de sobra para tomar a decisão certa. mas esperava tomar algumas erradas, antes.

doze

seu zé tinha o disfarce perfeito. uma quitanda. parei e resolvi que ali era o lugar perfeito para arquitetar meu plano. entre um e outro leite de colônia tudo passaria a fazer sentido. vez por outra eu desgrudava o umbigo do balcão para ver se alguém estava por perto. nada e nem ninguém. eu nunca devia ter acreditado em marta. mas marta acreditava em mim.