segunda-feira, janeiro 15, 2007

a eliminação da metafísica

algo surpreendente acontece com as mulheres aos 27 anos – com uma ligeira diferença para mais ou para menos – elas pura e simplesmente enlouquecem, entram em estado vulcânico, azar o seu se estiver por perto.
é sintomático: elas mudam o corte de cabelo – talvez até a cor –, começam a comprar os cosméticos anti-rugas tops de linha, se vestem de maneira diferente, passam a freqüentar o “café” da moda – onde os garçons usam aventais verdes e são jovens e atléticos – se fumam, deixam de fumar, e se não fumam passam a fumar (quase sempre carlton creme).
a princípio você vai achar isso ótimo, ela está a cada dia mais bonita, só que curiosamente passou a não trocar de roupa na sua frente e arranjou um “amigo” na internet – quase sempre um estrangeiro exótico: búlgaro, hindu ou grego – além de reencontrar “por acaso” aquele ex-colega de faculdade bem sucedido que mora no rio de janeiro.
e então “zás!” você perdeu.
de uma hora pra outra você irá materializar todas as frustrações dela e representar aquilo de melhor que ela não conseguiu conquistar e o de pior que ela conquistou: rugas e pelo menos dez quilos a mais. daí o “amigo” da internet e o ex-colega de faculdade bem sucedido serão os caras mais interessantes do mundo – os “caras legais” que a ouvem e a fazem sentir-se inteligente, e você passa a ser um tirano que exigiu dela a renúncia a tudo o que ela gostava em troca de um sexo de segunda. “você se acha bom nisso?”. “quem disse que você sabe chupar boceta?”. “seu pau é pequeno”. “a sua inteligência é mera erudição livresca”.
e o que fazer? a coisa mais terrível que pode ser dita por uma mulher não é que ela gosta de você como amigo (essa é a segunda coisa), é: “me deixe amar quem eu quiser”. anos de juras de amor serão atirados à primeira brisa, tudo justificado pela “mudança”, como se esse estado feminino a mantivesse isenta de qualquer responsabilidade com você. e o terrível é que todo mundo será compreensivo com ela e jamais com você. você é um sujeito incapaz de diálogo – mas quem disse que ela quer conversar? você a sufoca. aos poucos os seus amigos se tornaram os amigos dela, você passa a ser convidado (quando é convidado) através dela para todos os eventos e lentamente vai parecer que as idéias brilhantes que você teve não eram suas, mas meros lampejos que a convivência com uma mulher genial lhe permitiram. você vai sentir a saudável e natural vontade de matá-la, concomitantemente com a vontade de se suicidar. se agir será culpado, se não agir será omisso.
depois, tudo isso vai passar e ela voltará a ser exatamente aquilo que era, só que com a diferença de que não será você quem estará ao seu lado, e sim um dos sujeitos que “não tem defeitos” – os “caras legais”. e, enquanto você percebe que todas as canções de dor de cotovelo do mundo fazem sentido, secando barris de álcool, ela ficará mais e mais linda e tratará você com todo o sensual carinho do qual você nunca cogitou que ela fosse capaz, e o pior: vai querer que você “não seja careta” , sendo seu confidente e melhor amigo. não há saída, o gato pegou o rato.