segunda-feira, janeiro 15, 2007

natal de luz


contemplo intacto o último
suspiro indigno do estático
eu nada indago ao tempo
pois ele passa ao largo

de mim aquilo que me resta
quando eu fora magma
é uma estrada deserta para o nada
o zunir de moscas sobre

a minha cabeça sob o sol
e os dedos dos fantasmas
pregando um sorriso estúpido
na minha cara descascada

para onde terão ido as musas
e os fiéis irmãos de farra
a cama em que me deito
férrea me extingue os sonhos

o suor torra meus miolos e me amarra

quero a tempestade
e a destruição desta cidade
com seus monumentos e parques
quero derrubar todas as árvores
e arrancar as pedras de petit-pavê
em que os saltos altos
gravaram os rumores das damas
da alta sociedade

escapo pelo avesso
o que me libertará será a forca do
infinito no horizonte

corro em direção a todos olhos
para que as flechas me rasguem as tripas
mas a crueldade dos arqueiros
não lhes permite vítimas

meu sangue será uma vinha e na vindima
embriagarei as menininhas
em seu teatro mágico de todos os dias
protegidas por automóveis
e festas nas casas de família