segunda-feira, abril 23, 2007

treze

foi quando – um raio – sovaquinho e almíscar.
- teinx fogo?
- hein?
- fogo, teinx fogo?
estendi-lhe minha caixa de fósforos.
apanhou e pôs no bolso sem acender o cigarro que pendia do canto da boca.
- essa cerveja tem dono?
tinha, mas não era eu. sem se importar desceu uma meia com amargo, na verdade duas, para fazer uma inteira, e um cristal cica com a cerveja. secou numa talagada, temperando com meu leite de colônia.
- falô rapá!
saiu saindo como se nada tivesse acontecido. sim, eu tinha o urubu da dúvida, novamente, fazendo sombra sobre meu ombro sob o caixilho da porta. mas ela se dissipou rapidamente. o consertador de elevadores que freqüentava os porões da quitanda gentilmente resolveu me tornar à vida. aí ressuscitei no terceiro golpe. saí catando cavacos. subitamente havia adquirido o hábito de beber cerveja. era tempo. girei nos calcanhares e úmido de leite de colônia ressentindo.

quatorze

a tarde havia caído, a noite já tentava o drible, a bola redonda se ameaçava num gol imaginário sob o arco-íris. minha cabeça girava. eu não pensava em marta já há algum tempo, mas sentia que ela estava por perto em algum lugar. claro! algum lugar. como eu não havia pensado nisso antes? o óbvio nem sempre é o melhor! o criminoso sempre volta ao local do crime. a aranha escuta pela perna. cabelo quando cai pela raiz não nasce mais. nesse caso algum lugar e, se tudo mais falhasse, lugar nenhum.

quinze

algum lugar estava cheio. fiquei espantado com tantos criminosos num lugar como aquele, que era algum lugar apenas. era preciso esperar que o tempo passasse por ali. bem, depois de tantas decisões uma a mais ou menos não faria diferença. para disfarçar o cheiro de leite de colônia e não levantar suspeitas, pedi meia com amargo, na verdade duas, para fazer uma inteira. o gajão atrás do balcão me olhou com um olho suspeito – vítreo como uma bola de gude daquelas pinceladas com tinta branca. contei-lhe uma história a respeito de uma certa tradição familiar que eu seguia e que me obrigava sempre a tomar uma meia com amargo, na verdade duas para fazer uma inteira. não sei se o convenci, ele foi peremptório: - não tem!
não insisti. sê prudente, já dizia iago para otelo.

3 Comments:

Blogger Feet of Sins said...

não escreva mal traçadas linhas por obrigação.

e avisa sua amiga q escreveu a versão feminina q a marta nao usa calcinha

hahahahhahahaha

terça-feira, abril 24, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Este comentário foi removido pelo autor.

quarta-feira, abril 25, 2007  
Anonymous Anônimo said...

usa sim.

segunda-feira, maio 07, 2007  

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