terça-feira, janeiro 20, 2009


rock and roll, dali, 1957

lua de chacina

enquanto canto gota a gota a medida do meu desespero
o medo
essa flor envelhecida
põe diante dos meus olhos a vida

de dentro do livro me lembra
as regras desse jogo
não são poucas as cartas marcadas
a morte me esconde sua cara por puro pudor ou nojo

cato palavras
cato cavacos
rasgando as palmas de minhas mãos
vítima de meus vícios ou de meu suicídio
porque iniciei isso
para emaranhar os fusos
para chutar o mundo cão
ou para o meu sacrifício

enquanto canto gota a gota a medida do meu desespero
o amor
esse senhor sisudo
me dita o absurdo que fiz com meu mundo

que eu fique de joelhos e enxergue a sua imagem em meu espelho

reflito o que sou
tenho quatro patas esquerdas e um olho vesgo
o ritmo me escapa
o amor me escapa
no abandono um aceno da mão
ao canhir sinistro sou todo ouvidos
e em meus delírios a lua me beija
e mordo quem me alimenta

enquanto canto gota a gota a medida do meu desespero
perco o jeito e a fortuna
entre a gente que não entendo
mas partilha a minha culpa
barbarizando o sono estável da saudade
quem sabe a única cura para os poemas que o poeta me roubou
e que eu lhe teria dado com certeza
como também à prostituta loira de raízes ruivas
que bate a cinza no copo de cerveja
e ri do seu e do meu desespero

aliás

enquanto canto gota a gota a medida do meu desespero
a sua pele sua divinos segredos
e só posso dizer que se isso é sangue
tudo o mais seria um erro
porque errada é a minha voz
porque errado é seu corpo em meus dedos
porque errada é a sua palavra que já não conheço
a sua inveja da madrugada que me abraça e me põe no berço
ninando a minha poesia cansada entre mulheres mal amadas e bêbados

a minha casa
(a casa de meus olhos)
não está no meio do caminho do meio
é sempre o limiar
o fio da navalha na carne crua
o lado esquerdo da rua
na língua bárbara dos excêntricos
ou dos loucos varridos mesmo
quero cantar

tanto ruído em meus sentidos
olho o céu com olhos vítreos
você apegada à manhã e eu separado
de você já não quero saber nem um bocado
procuro a criança que caminhava derrubando postes a testadas

enquanto canto já não canto mais gota a gota a medida do meu desespero
deuses são também isso e ficam por isso mesmo e vão para casa
com a convicção do oráculo
o sangue do meu coração é pensamento
mais nada

3 Comments:

Blogger Mariana Botelho said...

intensidade na profundidade.

isso mata, moço...rs

terça-feira, janeiro 20, 2009  
Anonymous Anônimo said...

mata mesmo,

mas o amor, ah! o amor
é

.
.
.

nada.

Giuliano
Q.

quarta-feira, janeiro 21, 2009  
Anonymous Ane said...

Já colocou música nessa? Sonora, perfeita para. Parabéns.

terça-feira, março 31, 2009  

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