quinta-feira, novembro 19, 2009

amor fati

jorge ben, áfrica brasil, 1976, 5ª faixa

i

se eu falo tanto da mulher alheia é que me falta
a minha e de esguelha o seu amor me escapole
entre as sarças que me queimam a garganta e a alma

se não canto a chama do seu nome é porque
a chamo e não me vem aquela cujo querer bem
me sufoque num golpe além de mim

enquanto for inefável o laço inerme ilhado
nossos corpos impudicos num jângal reflito
indefinível meu olho traça o crasso da paixão


ii

eu tornaria sombra essa suposta luz
que a ilumina todas as manhãs
e a faria a quinta estação na melodia
(quando derramo meu sangue num oceano seu)

na navegação de cada lágrima de areia
ao seu corpo restituiria da partida o retorno
num sabor de périplo seu universo de metais
seria meu cais e meu abrigo entre os homens

e nessa terra eu seria o ninguém amigo
e a fera contumaz que a devoraria atroz
fazendo da filosofia a clara nitidez da harmonia
em todas as estrelas cultivaria o seu ser

enfim sulcaria a terra e cultuaria um querer natural
a chama vindoura e perene de um espaço sem tempo
passando incólume à existência de tanto fazer
(não sei se ainda a desprezo ou padeço de tanto a querer)

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Belíssimo poema. A ausência de posts foi compensado por este. Abraços
FMAN

sexta-feira, novembro 20, 2009  
Blogger Giuliano Gimenez said...

existe, de fato, alguma musa, Teca?

um abraço

sábado, novembro 21, 2009  
Blogger nina rizzi said...

ô giuliano, ó eu aqui, pô.. rsrsrs...

mas a mulher alheia. ai, coisa boa.

beijo, will. e, por favor, mande de novo aquele texto, o anexo não abriu.

beijo.

sábado, novembro 21, 2009  

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