domingo, fevereiro 21, 2016

a terrível influência de maysa
não é possível sorrir
ao riso falso o cansaço
de um olho torto e esguio
só mesmo o assobio
dentro do pulmão sonante
amante do maldizer
o coração numa cantiga
sola desbravando a intriga
ir não ir em frente estagna

sexta-feira, agosto 21, 2015


como bom covarde que me sei

prefiro um suicídio lento

porque porcos poetas se fazem

cozinhando o galo em banho maria

 

desisti da alegria meu bem

e nada como o outro dia depois

de um outro dia depois de um

leão por dia todo santo dia

 

quem dera esse céu de bíblia mórmon

iluminasse estes verbetes de dicionário

que são a minha vida sentida e íntima

 

e que você visse que a tristeza não é

uma iguaria fina mas sim a condição sine

qua nom pra me fazer companhia

terça-feira, janeiro 14, 2014

na clave dos teus trastes
minha fuga é fado sincopado
solfeje guria meu violão desafinado

(eu bem tocaria e te cantaria
com melodia e poema)

mas meu ouvido emudece
o diapasão semitona
e o coração empena

sábado, outubro 26, 2013


24 de outubro
 
 
as baratas

são mais

antigas

do que eu

mas também

mais vis

 

sob os móveis

que o tempo

esqueceu

tímido em

recordações sutis

 

um relicário

ao túmulo azul

(incógnito breviário)

deste sepulto

aniversário

 

24 de outubro
 
 
as baratas

são mais

antigas

do que eu

mas também

mais vis

 

sob os móveis

que o tempo

esqueceu

tímido em

recordações sutis

 

um relicário

ao túmulo azul

(incógnito breviário)

deste sepulto

aniversário

 

sexta-feira, outubro 11, 2013

ao grande poeta

curvei-me ao grande poeta
cujas grenhas e chapéu
jogavam xadrez

passatempo predileto de poetas
que poetam a dois por três

ofereceu-me roufenho
dez mil jâmbicos a
dez merréis

a generosa anáfora
pasmou-me num revés

grato pela transigência
numa humilde vênia
fui tomar minha cerveja




a educação sentimental

o teu bem faz-me tão mal
                           deolinda

traz-me o gosto da morte à boca
seus olhos em silêncio boquiabertos
me trincham as entranhas o cutelo

(em delito ao delírio em declínio dos gregos)

gago recito um provérbio
mas não rogo o arremedo
aos seus dedos em prelo

(que deflagram pejo num silêncio)

e a seu tempo minha alma em peso
estrangulará a garganta e no interregno
a chama se chama mesmo

(já não darei ouvido aos seus apelos)

a morte é rouca menina
um sussurro da vida
e duras penas são apenas

(como um dia após outro dia)


BWV 996

poemas de amor em meu arquipélago
tremo diante do látego
que seus olhos vociferam

sim seus olhos de fera
ferram meu destino e tropeço

mas a chibata calada na alma acalma o cérebro
ébrio de amor e desespero

carrego à cerviz o meu inferno
interesse

pródigo safo pescador de amores
alinhavo minha rede de poesia
iço velas à força de uns grogues
corsário arisco reacendo a melodia

com meus olhos de fósforos riscados
incendeio o cais e a monotonia
versejo num navio assaz veloz
vastos ventres vagas ventanias

quilha às virgens ilhas de vindima
cítrica acicata a minha retina
pouco importa naufragar no fim do mundo

abalroar o destino é a minha sina
terceiro excluído

dentro da saudade
todas as saudades
me impregnam

dentro do abandono
todos os abandonos
me calcinam

saudade impregnada
abandono calcinado

dentro de mim
maneira simples

sinto ciúme
no seu silêncio

e coso esta carne
em bagas pregueadas de p

unguento sanguíneo
arremedo exangue

atiçando o enxame
da saudade de si


segunda-feira, setembro 02, 2013



vir e o vento

escândalo
caetano veloso

vaga vagando
vislumbrava
ou via via via

violão violava
vis a vis a vis
avara avariava

a vida a vida a vide
verter vergastada

quinta-feira, agosto 29, 2013

vindima

ao imortal antero de quental

ao começar o tom sombrio da minha lavra
me calam resquícios da vida passada a limpo
inundo de carvão a chama e faço do vício
um combustível que não entretém mas proclama

guardo no corpo recordações de mulheres
sacrifícios da alma e mal pressentimentos
mas com os presságios não me contento
e nem faço da vida a coisa imaculada

benção é ter as mãos ocupadas
e a mente inerte que despenca e ataca
acatando o gozo no tormento

e fazendo jus à palavra dada