quinta-feira, março 29, 2012

hoje quero a canção que não
tange acorde a ordem é fechar
a porta e desligar o telefone para
poder enfim esquecer seu nome

hoje em meu quarto deitei todos os retratos
e virei os espelhos de cabeça para baixo
assim ao avesso de mim sozinho comigo
mesmo me ensino o segredo de recomeçar

segunda-feira, março 19, 2012

eu hei de amar uma pedra

teus olhos oblíquos são uma isca
teus seios ciclópicos beliscam
a fina tez da seda irritatiça
és uma bisca desvairada e cínica

mas eu pobrezinho me arrisco
e caio inocente feito um patinho
na sua lábia de gatinha arisca
saltando trapezista no vazio

e enquanto te chamo de benzinho
alinhavando uma balada triste e sozinho
tu exercitas sabiamente a fama rindo
à socapa secretamente e divina
deixe que ela parta
seu coração é uma
trilha insegura e a cada milha
sua saliva empaca

para dor de amor
uma borracheira basta
e lembre que tudo que
afasta aproxima o fundo

da razão então casta
figura de proa oprimida
produza algum encanto
nesta vida e um debrum

colorido de craion
dar aula é tocar para um público hostil

o problema da literatura, assim como o da vida, é que no fim sempre se torna um canalha.
Roberto Bolaño

minha vida nunca foi
tão corrupta então
por que abruptas pedras estúpidas
enrolam meu querer

meu bem é pleno e plácido
ainda que vez por outra amiúde
látego num lampejo tácito

teço em meu peito flácido
minha morte em vida nada fácil
mesmo sem traçar ao certo o negócio
trabalho sutil almas para o ócio