segunda-feira, janeiro 24, 2011

depois de dilapidar o teu amor
espero que reste algo além do que sinto
ando funcionando por instinto
e aquela palavra tenho me negado

emocionalmente sou teu escravo
sempre como segunda pessoa
e nos acordes crus ainda ressoa
o teu nome e a tua pessoa

mas nos piores momentos o porre é advento
me liga a lida fria da vida
quisera estar além
do tormento do teu corpo quando gozas
e na tua lubricidade me desatas o nó
amém
pra você não dizer que não te dedico poemas

aquilo que vem de ti
é o veneno da raça
não sei se faz bem a mim
a juventude me ultrapassa

a flor do teu corpo desperta
por certo o deserto e a dor
não quero amor
perder este cansaço

serei mais forte que o aço
na sofreguidão dos teus passos
serei uma ou duas vezes
o gozo nu de rezas no teu encalço

segunda-feira, janeiro 17, 2011

a servidão do amor é teu corpo na pedra
esculpido na parede que desencarna
quando nada vale o poema em que me plagio
no engenho fugidio da tua lembrança

de que vale o verso se fizeste leito
sobre o monte das oliveiras
(não é teu sexo que me interessa
mas a aquitetura do teu gênio)

se viesses haveria pássaros e gerânios
em vez de eu boquiaberto a clamar o âmago
duma força que me desatina e corta
a alma
e me empurra pelas vielas tortas da memória

segunda-feira, janeiro 10, 2011

pus meu coação na mesa
vazio no cárcere de incertezas

já não o sinto e nem sei dos versos do poeta
meu pavor o matou
junto com a perspectiva de felicidade

já não o sinto e preferiria estar cego
guria
a ver você ir pagar penitência

à deriva na esquiva do amor
a dor já não vem

faz residência em minha vida
junto a tua ausência

sentado entre a gentalha no boteco
bebo uma cachaça de vinte e cinco centavos

à espera dum amigo tão fodido quanto eu
à espera dum inimigo que dê cabo disto
à espera duma megera pra esfolar-me a carne

dissipo ideias na fumaça do cigarro
que me alimenta as vísceras vazias
que à minha revelia teimam em viver

do fundo da cabeça me vem um noturno de chopin
num contraste obsceno
ao sertanejo que me estoura os tímpanos

tudo isso porque perdi a fé que nunca tive
porque me abandonei entre o restolho
e estas mãos magras que não pagam dívidas

tudo porque não pude ser divino nem sublime
e nunca soube ser um encantador de serpentes

enfadado planto no asfalto o passo inerte
me recuso o rumo de casa
me recuso a fretar esta carcaça

palavras pessoas mundo inútil que me fez fiasco
definitivamente agora entendo a solidão

a capitã fugiu com um pirata e abandonou o barco

aqui fiquei apenas eu que sou um rato

junto com alguns barris de rum barato

impreciso arrastei a corrente errada

à deriva neste mar só fiz fiascos

seduziram-me sereias a triângulos nefastos

a tempestade me atirou ao penhasco

quebrou-me o lastro e a quilha

encheu os porões e rompeu escotilhas

é-me impossível navegar sem um rastro

um gosto um cheiro um tato

ou uma estrela que me indique o rumo

cansei deste mar revoltoso e deste céu escuro

colocarei fogo nestas velas e roerei os mastros

farei jus ao meu nome e serei apenas mais um náufrago