segunda-feira, janeiro 11, 2010

i

a noite é o lugar do viço
àqueles que renunciaram a mim dedico
uma canção a prosa e o lied
será eterna lembrança

sei que todos gostam de querer
ter é o que mais me espanta

mas o que abraça e abarca chiaroscuro
companheiro é o que dá esperança
cria a alma e se levanta

todo dia a fuga de ser ato
engano e pujança sfumato

nunca mais seremos meus
ainda que cultuemos o mesmo
a plenitude do desejo
fora o extremo inconcebível

sempre o mesmo eu


ii

o tempo não progride
aterra no espaço
fincando na carne
os seus braços

a cada traço
tentar escapar é vão
sob o peso dos astros
escólio a estátua

e tanto mede quanto ameaça
fazer a estatura
ainda mais nas noites
de lua arrastar-se
à procura
e não a encontrar


iii

onde colocar o peso destes pesadelos

a luz enegrecida
o escuro brilhante
calcinando a rima

despida a vida
vestir a vista
em desespero

o erro imperdoável
sempre impecável
no ermo deste fado
com extremo zelo