quinta-feira, agosto 29, 2013

vindima

ao imortal antero de quental

ao começar o tom sombrio da minha lavra
me calam resquícios da vida passada a limpo
inundo de carvão a chama e faço do vício
um combustível que não entretém mas proclama

guardo no corpo recordações de mulheres
sacrifícios da alma e mal pressentimentos
mas com os presságios não me contento
e nem faço da vida a coisa imaculada

benção é ter as mãos ocupadas
e a mente inerte que despenca e ataca
acatando o gozo no tormento

e fazendo jus à palavra dada

quinta-feira, agosto 22, 2013


num sargaço de suor sagrado
alço o arco um tanto abstrato
meu cansaço traço e escapo
no espaço arremessado o tempo

assim com um tremor instauro
largo um lastro e arremedo
um barco adernado ao abraço
numa manta de vento anoiteço

afogo palavras nas vagas
trás várias braçadas a lira
sedenta de sal e de sina
alinhava calada a tormenta

paradiso

os ritos de amor
são afagos ao homem
enquanto nu enquanto
brava a sua juventude

trás fechar sua asas
do céu dentre as nuvens
caminhando entre as estátuas de sal

o homem é ícaro
num sonho mortal