quarta-feira, abril 29, 2009
segunda-feira, abril 27, 2009
foto: sara roeder (a outra banda da poesia)
du conte
o bêbado assaz
desfaz a queixa
que o distrai
bate o martelo
contra a garganta
que se contrai
rotula o vício
num precipício
de amor e ais
levanta um brinde
para a vertigem
e bebe mais
Marcadores: a outra banda da poesia
sexta-feira, abril 24, 2009
da série leminskianas
ii
de nada me vale o cheiro
de todos os corpos
o teu cheiro é o porto
onde abalroo o sentimento
êxtase de ir à pique
junto com minhas ideias
naufragadas
bebo tua água salgada
a sede me definha
nesta ilha deserta sem garrafa
não sou nada que se sirva
Marcadores: leminskianas, paulo leminski
mel mais doce que o sangue (fragmento)
A transição acontece imperceptível, o pensamento amordaça a palavra, o punho torna martelo tudo que não gire ao redor do interesse imediato, expirar até esgotar o oxigênio, então se abarca o outro num fôlego, sem emoção ou sentimento. A onda bate na pedra, o trovão é ininterrupto e intenso. O tempo deixa de ser cotidiano, suspenso por um fio louro no limite do visível. Abandono e ausência. No concrescer da idéia que procura o absoluto o corpo se pendura, oscila nas pontas dos pés até excentricamente invadir o outro que não é, duvido do caráter fragmentado desta existência, constato o tijolo a dar na minha cabeça, o qual não é possível privar daquilo que não é mera concepção, o tijolo não se concebe, ele é, mas a minha idéia atirada na testa alheia também é bem capaz de causar um galo.
quarta-feira, abril 22, 2009
sétimo selo
da série leminskianas
ao seu thadeu impronunciável
i
de tanta fé no acaso
deixei-o apostar
meu destino com a morte
um traço tênue
no fio da navalha
o último fósforo
a tinta da trave
o último tiro
e o meu horóscopo
tirei tantas finas
que meu tino não me engana
tudo o que perde
às vezes ganha
Marcadores: bergman, paulo leminski, thadeu
nina simone
feeling good
quisera fazer do sonho poesia
trazer à água turbulenta a calmaria
devolver a inocência à minha sina
e reconfortar os loucos da boemia
quisera ter um pouco mais de nós
no compasso lento de um silêncio
e quem sabe saborear a sós
a nostalgia dos teus movimentos
mas combato sonolento à luz do dia
se a vida viesse e me dissesse segue
aí sim eu seguiria adiante e atroz
a lembrança escura da tua memória movediça
sexta-feira, abril 17, 2009
nina simone
you’ve got to learn
se o meu toque não apodrecesse o mundo
eu beijaria teu seio e mudo te daria
tudo tudo o que tenho
nesta vida devastada
mas não tenho nada
e este nada em mim
só o é porque me desdenhas
é o que fazes de mim
então que venha
o tudo ou o nada
que me fará a mim
ainda que no fim
se fores minha tudo
e se não fores nada
quarta-feira, abril 08, 2009
foto: miguel soza
porque ela não deveria merecer a minha tristeza
serei reconhecido pelo êxtase
palavras mal colocadas aos teus pés
e teus tamancos à porta da minha boca
sempre fresca e a tua cara meio sonsa
fazendo par aos meus olhos de revés
serei esquecido pelo matrimônio
homônimo do inferno com o inferno
cujo cinismo me torna avesso o escárnio
e no teu riso um tanto tributário
meu membro corroerá ao teu veneno
serei eu mesmo na metade da metade
onde estiver a menor parte do teu sexo
(cheiro saliva unhas muco e enzimas)
estarei à espera da tua despedida
para forrar o céu dos meus excessos
Marcadores: miguel soza
segunda-feira, abril 06, 2009
rembrandt
novamente (old mill)
perco o prumo e a dor me trampa
um passo à frente me trinca as lentes
dantes com um rabo de arraia
a raiva e o ranger de dentes
são o menor dos intentos
se mesmo à noite ruiva
semeio veneno nas serpentes
sigo de qualquer jeito o vento ao mar me despeja
e roo a corrente da ânsia
deixo ao porto desolado a poeira
o sal é o meu deserto
donde aceitarei o pacto
pelas vias macabras
das vagas ordinárias