sexta-feira, dezembro 19, 2008



um canto (diálogo)
(com jorge barbosa filho)

me arranje um canto
uma ruga uma rusga qualquer
pra deitar minha voz
rebuscada de tanto revés

me arranje um
pra fumar minhas metas lá fora
pois tudo o que eu sinto
sequer é melhor do que outrora

me arranje
preciso depois o quanto antes
de uma língua de um pulsar
que cante quente e cante mais

me
cante por todos os cantos e no entanto
até eu não fazer mais sentido prescrito
nas esquinas de todos os riscos
o sentido de querer lhe abrigo

(dedicado ao grande jorge barbosa filho que anda pelas veredas pedregosas levando pedradas covardes nas costas, pela generosidade e pela poesia)

Marcadores:

quarta-feira, dezembro 17, 2008


salvador dalí

canção da sesta

quoque tes sourcils méchants
te donnent un air étrange


asterisco sombria monodia
monolítica luz sereia estria
obscena iguaria obsequeia

reticente lente de brocado
vulgo rutilante acaso
júbilo de fino enfado

(enguia astuta enluta e mia)

trêmula ganja que jonga
a gelha estia no gajo
regeiro espúrio de scherzos

trinca de quadra catrapus
trampa trançada de pêlos
tecido pejo de fato

(vicária flor algaravia)

forro e pérfido libelo
no afago às cordas da ânsia
despetala cédulas e dança

sexta-feira, dezembro 12, 2008


foto: ed fox

meu coração é o calabouço
onde expias teu crime

a liberdade

sanção absoluta
o meu desejo

goza sete vezes a ira
que te devoro
e ignoro soltar as correntes
do teu desterro

segunda-feira, dezembro 08, 2008


foto: ed fox

o primeiro caminho

aquilo que desejo
raramente lembro
beijo e exploro

cunho sempre o malogro
alvíssaras nem sempre
ao templo restituo

algúrio nobre torpe
aquele beijo lúgubre
só fora o desejo

teus seios firmes e fortes
quiçá é o que impera
a sombra marca da maldade

brusco como a neve nesta cidade
é exato o que faria à tua cidadela
era ela era ela ela era

apenas mais uma passante

quinta-feira, dezembro 04, 2008


william turner: "naufrágio"

há muitas léguas meus olhos
não viam o cais de meus vícios
ódio amor sexo
maré quase perfeita
em meus dias de tédio

mas a pedra em que tudo batia
deu ao céu um manto vermelho
não houve trégua

de tanto mar
tal sangue
entre as ondas o vento cerzia

minha sina nas tábuas
o sal purgando o azul
e a vida que me vinha