dezesseis
juro que tentei. na mesma mesa. loira e japonesa se enfrentavam na sinuca. curioso como minha vida parecia andar em círculos. dejavú ou djavan. merda, eu detestava quando as coisas me pareciam assim, imprevisíveis. o que aconteceria agora? alguém chegaria e me perguntaria:
- fulano de tal?
que diabos eu responderia? empreenderia fuga? e se eles fossem rápidos. o pior é que eles eram rápidos. e marta? ah, eu nunca deveria ter acreditado em marta. mas marta acreditava em mim. até que, a primeira coisa em que pensei foi marta. foi quando – um raio – sovaquinho e almíscar. tudo estava quieto demais, e eu era, afinal, um cara pálida.
dezessete
marta entrou como um raio em algum lugar. no exato instante em que meu olho boiante era encaçapado com uma potente tacada. perdi a concentração. marta parecia procurar alguém. parou diante do balcão e pediu uma meia com amargo, na verdade duas, para fazer uma. disfarcei oblíquo ao lado de marta. o gajão serviu rapidamente. marta aproveitou para lhe falar sobre uma tradição familiar que a obrigava a tomar uma meia com amargo, uma não, na verdade duas, para fazer uma inteira. hum, de novo o urubu da dúvida fazendo sombra sobre meu ombro sob o caixilho da porta. o que iria acontecer agora?
dezoito
súbito, ouvi a voz de alguém atrás de mim, suas costas encostaram nas minhas, curioso, alguém parecia carregar um cachimbo no bolso traseiro. marta e alguém conversavam sob o tapete, tentei ler os lábios de marta através do espelho, mas ela parecia dizer o contrário do que realmente queria dizer. alguém segurou sua mão, marta puxou-a lentamente, quanto a mim estava divido entre marta e alguém e a loira e a japonesa. marta ameaçou sair. a loira cortou um sete no meio. alguém começou a vasculhar o bolso traseiro em busca do cachimbo. a japonesa matou a oito no canto. mais uma ficha e meu olho livre, preso ao decote de marta através do espelho. marta olhou o relógio. alguém sorriu como um coelho, batendo suas dentaduras triplas e babando cuspe entre as frinchas. a loira bebeu um gole do seu chá. a japonesa tirou do bolso uma carta de baralho. e eu, bem, eu era afiliado do partido comunista e bebia um black label vez por outra.