terça-feira, outubro 31, 2006

clematis walnut barch

me livrei do teu incesto "mulher nua
a romã que se partiu estava cheia de estrelas"
tuas cinzas no incensório o desespero
pode ficar com a riqueza que bato a poeira

fui o homem que amaste no distante efêmero
na minha ingenuidade me farei certeiro
do poema de poucos versos o teu enterro
e do meu amor tu não verás nem mesmo o cenho

da palma do meu carinho te apago o desenho
e em teu corpo nunca o cheiro mais venero
pois do meu cantar de nenhum modo é grego
ainda mais que o teu amor é cego

segunda-feira, outubro 30, 2006

parece que finalmente encontrei a sabedoria, mas junto com ela veio muita solidão. aquele sujeito que eu era morreu, agora sou outro, apenas meu lado mau, a parte de mim que era capaz de amar se foi, minha única defesa contra tudo o que me consumia. vou me tornar invisível. e um dia serei todo certeza. e a farei sangrar bem devagar.

eu nunca sei o que você quer dizer
quando diz me mata
eu meu interior
qualquer meta de mais de meio metro
me mete medo
ainda mais quando da morte
mesmo que uma vária
pequena morte

segunda-feira, outubro 23, 2006

um girassol da cor do seu cabelo

arrasto o inverno em meus passos
pasto num terreno estéril e trágico
meu amor sem gestais foi decapitado
de meu destino escapo e o enfado

estagnado o coração é cacto
cuja flor sem hálito em meu
féretro lápide estio o advento
empenho de meus devaneios

delirante fui enquanto a queria
amoroso sempre quando não devia
e agora areia a amante última iguaria
nem a tempestasde me libertaria
há um tempo em que o amor tivera o gosto de paçoquinhas de vinte centavos (também para ela, eu pensava). há um tempo em que o amor tivera o cheiro de diesel dos ônibus do terminal (também para ela, eu pensava). há um tempo em que dançáramos no ônibus lotado (ela meu par, eu pensava). há um tempo em que eu quisera chegar logo em casa (também ela, eu pensava). há um tempo em que a amara (também ela a mim, eu pensava)

poema provisório


um dia há tempo e lugar e o lugar donde em mim assegurado
no tempo uma vez que fora poesia tenho apenas a vida diante da vida
a prendo no pensamento mas meu pensamento está cansado

há um tempo em que a morte não é um
enfado há um tempo em que ela não é
necessária a canção cantada a flor florida e eu

há um tempo em que é nobre a partida chibata
do eclesiastes quem sabe o amor sobre a esteira ainda
um instante adiante a vastidão do antes
há tempo de dizer aquilo que não se extingue na verdade

há vida que não me dispõe este querer desde
ontem hoje sempre uma condenação sem ser
o corpo amargo de minhas emoções depuradas
de mau gosto eu não a vejo ela não me
vê há tempos inacreditáveis

quarta-feira, outubro 18, 2006

a última vez que fiz amor com a mulher que amo ela me negou sua nudez três vezes: a primeira foi quando ela me negou a nudez dos seus olhos, sua mente estava distante e seus olhos procuravam um rosto e um corpo que não eram os meus. a segunda foi quando ela me negou a nudez de de seu sono, fugindo de mim para proteger seus sonhos dos meus e guardá-los para um outro sono que não era o meu. a terceira foi quando ela me negou a nudez de seu corpo, escapando sorrateira de meu corpo, porque o toque que ela queria naquele momento não era o meu. me senti uma rés ignóbil num gozo animalesco de cães. porque tudo o que eu queria é que ela fosse minha e não de uma distância entre ela e eu.

negras nuvens

aliso tua cabeleira mal te sonho
à morte de seus seios meus espinhos
aninho teus ombros só um pouquinho
mas é bem ali que o que em mim é tudo mais
em ti repousa e se desfaz

se subo a colina é só o por que
a resposta seria encontrar-te na esquina
e não o fracasso da minha culpa
vasculhando a mercê de outras entranhas
animal fuçando a própria volúpia

ainda arrepio em meu beijo tua nuca
ou além do limiar do sexo são apenas dias
teu tédio morno e lastimável amor
não crê não cresce e arrefece enquanto
a tua alegria na fotografia desaparece

terça-feira, outubro 10, 2006

depois de algum tempo, fico pensando o que aconteceu comigo em relação à ela, quando vejo seus amigos parece que absolutamente nada faz sentido desta perspectiva. me pergunto por que lhe escrevi poemas, letras de música -- por que toquei violão com ela nua na minha cama no domingo de manhã? -- e sobretudo por que isso tudo me faz sentir tão frágil e tolo. pior: ridículo! será que ela quando olha para trás enxerga o quê? será que ela sempre fingiu fazer parte do meu universo e era um engodo? o orgasmo, o amor, a cumplicidade e o eterno pacto de sonhos a se realizar?

eu conheço a coreografia dos seus gestos
a fúria do seu corpo quase quieta

quando rasga as veias e saboreia o gozo
eu sei a primazia dos seus sonhos

seu jeito bobo de falar estranho simulando medo

sob as cobertas dando de ombros
pra ganhar a palavra certa

na ponta dos meus dedos a geografia do seu sexo
o segredo do universo

sussurrado na cama cúmplice perfeita dos nossos invernos

quinta-feira, outubro 05, 2006

muitas vezes não escrevo o que me descreve, escrevo apenas o que me desespera, mas volta e meia é melhor olhar numa outra direção para me compreender, porque aquilo que aparento nem sempre sou, ainda que seja alguma coisa, porém nunca uma coisa além. aquilo que digo de mim é o que me seduz, já o que digo dos outros, nem parece que o digo, quanto mais quando digo aos outros. daí é tirar conclusões.

p – 47d thunderbolt

missão secreta

sento a pua
pra ver se a cobra fuma
voando baixo evitando radares
maridos violentos
e a patroa

visibilidade boa
alcinhas
marquinhas
pernas
e dedinhos em sandálias havaianas

tenho a manha de abater aeronaves
sob qualquer clima
ironia
sarcasmo
ou álibi

no mau tempo
navego por instrumentos
adivinho signos
leio mentes
ofereço cigarros e isqueiro
sinais de fumaça são ótimo alvo
para bombardeios

em caso de emergência
ejeto
e torço para não ser feito prisioneiro

casa
comida
roupa lavada
e aliança no dedo
conga na boca do cachorrão

1

isso tá aguado! ô rapá, me dá otro! magro suspeito, anda rebolano, parece mulé, desse não, do otro rapá, druris é pra otário, põe mais um poco rapá, faz rendê meu deizão, aí tá bom, qué me vê cuzido? só o primero gole dessa porra presta, depois fica aguado. esse otro ali no balcão também parece mulé, saca o jeito que ri quano fala, sei não, olha, tomano martini, bebida di mulé, pió que o cara do balcão nem marca o que ele bebe, pió ainda é quem num saca o naipe dessas bicha e cai na conversa, viadarada pela-saco do caralho! tipo assim num si cria lá na vila, num si cria, tem é que xingá. viado! e dá na cara, surra de sabonete febo enrolado em toalha, pra aprendê. diabo! cachorrão disse que esse lugá era manero, mais só tem viado. cachorrão disse que tinha umas coroa aqui, num gosto de mulé velha é muito larguifunda. ô viado pela-saco do caralho, tá olhano o quê? mais cachorrão disse que elas dava dinhero. o que que esse viado pela-saco do caralho tá olhano? isso de home querê home é nojento, escroto, que nem diz cachorrão, bom é a forquilha, o risco, a xana, a bucinha, a xoxota, a ostra, a chavasca, a mudinha, a pomba, até de chero. é bom vê elas de lado coa perna dobrada, a barriga que nem corda, rato novo. a preta é boa purisso, é apertada e güenta vara, branca polaca mia. viado pela-saco do caralho, risadinha e olho de canto, reloginho bonito, tem grana, podia dá o pino depois, bicha bêbada é mole, chora, ai meu deus moço! é, mijá, isso tá aguado, era melhó tomá caninha, mas cachorrão disse que num era pra tomá qualqué coisa que as mulé fica di bizu, e o bafo enjoa elas, era pra pedi blequeleibou, cum gelo, quem bebe puro é cuzido, pió ainda é gasta dinhero coesses cigarro caro, mais cachorrão disse que num dava pra ficá de cigarro vagabundo na boca, cachorrão disse, mais forte num fica cum cigarro vagabundo na boca, lá o negócio é camisa por dentro das calça, cabelo pentchado cum chero de neutroques, compra desodorante áquis que tem chero de home, mulé gosta de chero de home, mas suó tem que tê na hora de trepá, quano cê sobe nelas elas gosta do suvaco suado, tem umas que beja teu pé por causa do chulé, gosta de sebo de macho, é tudo cachorra que nem na música, bate na bunda delas que elas gosta, e enraba, elas finge que num quere, mas tão a fim. cachorrão sabia das coisa, arranjô uma coroa que banca ele, largô a obra, era bom de parede, foi fazê serviço fora, a coroa gamô, melhó que tinha filha, coisinha de quinze aninho, tineige, mais güenta o ferro de cachorrão, polaquinha de mucosinha rosada. come mãe e filha, ia comê as dua junta, dizia, pra velha lambê o cu dele e ele peidá na cara dela enquanto socava na filha, cachorrão sabia das coisa, preciso vê se arranjo ua coroa, pra encostá o casco, vivê junto, milhó mijá antes de pedi otro. ô véio, quidê o banhero? voz de pato, aponta pro fundo, diz algua coisa baxo, pra ovi e num ovi, fica dano risadinha co otro viado pela-saco do caralho, será que o banhero é de viado? si vié atrás desosso, preciso de ua coroa, megadete tá fulo pelas pedra, culpa daquela preta que só dava pelas pedra, mas a barriga esticada, nem preta direito num era, preta apelido, alcunha, é, só pensá nela emborracha o pau, o buraquinho quente, grelinho pequeno, grelinho grande parece pica pequena, mulé que baba pela xana, a preta era cherosa, bala de goma, suco de caju, levava gostoso. musiquinha no banhero, negócio de viado, sabonete, papel de enxugá as mão, coisa fina, mas é milhó enxugá a mão nas calça, cherinho de perfume, o otro da risadinha, voz de pato, veio mijá, acho, se olhá torto desosso.

2

é, musiquinha do lado de fora, tutituti, coisa de paquito. otro blequeleibou, um cigarro, é, ué, o carinha do bar já encheu o copo e dexô no balcão, num pedi, tá noiado o viado pela-saco do caralho? o boiola tá a fim de mim, aí, viado pela-saco do caralho. voz de pato, a moça ali que pagô, aponta cum sinal de cabeça, olho a mina, polaca, caju-piranha, dona bem vestida, tomara que num seja larga, vai valê as pedra da preta, a grana de megadete, penso na preta, entra dobrado se preciso. chego perto, carrego o copo, cigarro aceso no canto da boca, olho meio fechado de arder a fumaça, me manda eu sentá. voz de mulé fina, diria cachorrão, unha feita, dente bonito, naipe que tem grana, naipe de mulé que dorme de dia, a grana das pedra da preta, a grana de megadete, se for pra casa dela inda rola uma cachanga. diz o nome, abre a boquinha bem devagá, l-e-n-a, lena. pergunta meu nome. cachorrão disse pra dizê o nome errado, também era pra inventá um nome de rico, as mulé saca o naipe dos cara pelo nome, cachorrão sabia das coisa, tava comendo a coroa rica e a filha dela, se fosse o caso dizia a verdade depois, cachorrão ajudô a escolhê o nome, tinha que sê nome de rico, pensava em maicou, mas era nome de pobre, dizia cachorrão, que sabia das coisa, bernardo era milhó, nome de rico. sentá de frente, num colocá as mão em volta do copo, costume de cadeia, senão te metem a mão no prato. pergunta o que que eu tô bebendo, pagô agora, agora qué bebê, que beba. dente bonito, entorta a boquinha de lado pra guspi a fumaça do cigarro cumprido, dá risada, boquinha boa, vermelha, toma um gole do meu copo, faz careta, diz que é muito forte, mais forte dona. oferece o copo dela e pergunta qualqué coisa, puxa papo. mulé perguntadera mia, inda por cima fala de jeito esquisito, fala por escrito, diria cachorrão, mas tem tino, naipe de peito pêra, biquinho rosado e pequeno, güenta poco, aí é bom, eu desconverso e vô pra preta, mas tem que vê as pedra, a grana de megadete, a preta é bico preto, isso em mulé é bom, num é fresca, num desatina e escorrega de lado, num tem que ficá prensano em parede mijada. pergunta o que faço, sei lá, invento história, cheguei agora, vim vê qualé, se dé fico, muito velho pra bolero, vontade era dizê pedrero dona, pau de cavalo, que é o que tu qué, mas num dá. que diria cachorrão? pió que num vem nada, adivinha dona, me popa o guspe, balanço a cabeça, denuncio, desvirtuo, rio de lado, bebo um gole, tá aguado, a musiquinha mais alta, ela diz uma coisa que num entendo, rio de novo, balanço a cabeça. ergue o dedo, vem o magro todo de preto, parece ninja da televisão, dos filme de luta, gente brocha esses japa, vira rabo de arraia, martelo é pá bola, já era, já elvis, que nem dizia cachorrão. o magro volta, traz bandeja, dois copo, o meu e o dela, ela ri, só ri e faz pergunta essa dona. qué fazê tintim, diz alguma coisa, senta na cadera mais perto. tenho que mijá, dô um gole, só o primero gole dessa porra presta. ela diz de novo, chego perto pra dizê que num ovi, perfume, chero de mulé, chero bom, grã-fina, põe a mão na minha perna, abre a boquinha de risada, tá a fim. será? cachorrão disse que num era pra galinhá, só i se fosse na boa, era pra esperá o sinal. que porra de sinal? preciso mijá, digo pra dona, ela chega perto, vô falá, ela cola a boquinha quente na minha, língua macia, doce, encosta o corpo, passa de leve as unha em cima do pau, endurece o bicho, tá torto na calça, cresce de lado, ela dá risada, desgruda pega o copo e bebe rindo. bateu agora, esse tal de blequeleibou num é fraco, pensa se num fosse aguado, milhó mijá. ergo, o pau tá duro, ela ri, no balcão os pato ri, todo mundo ri. milhó mijá, onde é a privada? milhó i de leve, chapô a quina, a quininha de cachorrão pra dá balão bom antes de caí na naiti.

3

dois cara se pegano perto da pia, uma gordinha no meio deles, alisa o pau de um, o otro aperta os bico das teta dela, nem me liga. entro num cubículo, o pau começa a mijá antes de abri a calça, o primero jorro pega pela metade, foi quase. diabo de nóia. espremo a cabeça, pinga um pingo grosso, baba de porra, chicoteio a pica e o pingo gruda na parede, saio fora. a gordinha leva por trás e bola gato no otro, lavo a mão na pia mais longe, lavo a cara, passo água na nuca, enxugo na calça pra disfarçá o jorro. olho vermelho, arroto sortido de cana. um cigarro.

4

porra de musiquinha de paquito, mais alta, a dona dança do lado da mesa. chego, ela tá chumbada, segura minha cintura, esfrega a xana no meu joelho, é mais baxa, vira de costa e se encocha, o pau emborracha, levanta os braço, rebola, perfume bom. de trás vem alguém, aperta as teta dela, ela olha e ri, um viado pela-saco do caralho cum voz de pato, se folgá desosso. ela dá risadinha, o pato também, dá bejinho, que nem minininha de escola, ela senta e convida o pato, me apresenta, o pato dá a mão mole, parece um bicho morto, olha pra ela de canto, dá risadinha, todo mundo dá risadinha. ela diz que o pato corta o cabelo dela, se despede. cai fora, viado pela-saco do caralho. ela ergue a mão, o ninja volta, vira e volta, dois copo, vai meu vale todo na brincadera, tomara que compense e role as pedra da preta. ela acende o cigarro cumprido, gospe de novo a fumaça de lado, segura o cigarro que nem passarin, passarin rolinha de olho vermelho, a fumaça cara de cavera, encosto nessa mina, o alvará dela venceu. cigarro aceso, ela olha, passa o tino, será que saca o naipe, nem é coroa, pió é que emborracha o pau, só o primero gole dessa porra presta, depois fica aguado. ela tá calada, séria, nem ri, será que foi o pato? diz algua coisa, a voz dela tá pastosa, tá cum cinza cumprida, dô um gole fundo pra faz valê o deizão, ela deixa o copo intero, nem toca, pega a bolsinha na cadera, faz sinal pro ninja, cochicha no ovido dele, dá risada. pego o copo dela, dô um gole, parece nesaldina, seco, bate que nem martelo, bom, lá no fundo. tá quente aqui, porra de musiquinha alta de paquito. sai saindo, digo que quero pagá a conta, dinhero dos vale, as pedra da preta, o dinhero do megadete, caminho lento, pé de porco, ela gruda de lado, segura a cintura, os viado pela-saco do caralho cum voz de pato continua de risadinha. a luz da entrada é forte, a porta fecha, parece porta de faroeste, pra lá e pra cá, ela pega o papel das bebida, fala alguma coisa pro negão da entrada, o cara é grande, mas é lento, dava pra corrê, pisante de borracha eu, ele de sapato, ficava coa grana das pedra da preta, de megadete, se bobiá é martelo bem dado, rabo de arraia. ele dá pra ela uns papelzinho colorido, ela dá risada, o negão me olha no olho, manja a minha, balança a cabeça, balanço na minha, deve tê dado o pino pra tá aqui, mais gordo que forte, martelo bem dado é pá bola, já era, já elvis, que nem dizia cachorrão. viva! ela gritava, esperano por mim do lado de fora.

5

lá fora dá as chave prum piá, do lado da gente a gordinha e um dos viado pela-saco do caralho cum voz de pato do banhero. olho o rabo dela, ela ri, a gordinha ri. chega otro viado pela-saco do caralho cum voz de pato, todo mundo dá bejinho. todo mundo ri. mais bicho morto pra apertá, ela diz que não, alguma coisa, chega o piá e abre a porta do carro, ela diz tchau, dá nota pro moleque e entra. entro, carro cheroso, ela me dá um bejo, boquinha macia, quente, dente lisinho de grã-fina, gosto bom, a preta tem vão na boca, murro do macho dela, o toco do dente machuca a língua, mais é apertada a bicha. liga o carro, sai saindo de leve, liga musiquinha, é, musiquinha em tudo que é lugá. pára no sinal, brilho frio de vermelho, pingo de garoa, amarelo, verde, ela bota a marcha, aproveita e alisa a cabeça do pau, unha feita, cumprida, unha de mulé que dorme de dia, o bicho emborracha, abro o cinto, o zíper, tiro o pau, enverniza, ela segura cuma mão, coa otra dirige, soca uma punheta devagá, saca o troço, pára no sinal, vermelho frio, dá pra vê a garoa. boquinha quente, língua macia, passa de leve na cabeça e engole, fica cos pentelho que nem bigode, vai e vem coa boquinha, verde, o carro atrás buzina, ela ri, engata a marcha e sai, o carro passa do meu lado, a gordinha cum viado pela-saco do caralho e voz de pato do lado, o otro no banco de trás, buzina, passa rápido. vermelho, a gordinha pega o finzinho do verde, vai longe, ela ri, pega de novo, vai e vem, aperta as bola, passa as unha de leve, o pau contrai, lateja, cachorrão sabia das coisa. procuro o buraco dela, ela ri, tira minha mão, diz que não sem saí som, só mexe a boca, engata a marcha, num sei onde vai, mais é quente, vermelho frio cada vez mais molhado, saliva grosso, baba na pica, verde sem amarelo, vermelho, a gordinha tinha rabão, o riso do pato de lado, desossá os pato, dá pino, batê na cara, viado pela-saco do caralho, vermelho, só vermelho, verde, chuva grossa no mesmo lugá, a preta, as pedra da preta, a grana de megadete, a preta, as corda da barriga, o caminho da felicidade, verde, chuva grossa no mesmo lugá, vermelho, baba, arroto de sortido, nesaldina e blequeleibou, pato do caralho, a preta, a preta, a preta. vermelho quente, deságua, chove grosso que nem corda, que nem corda, ela ri, brilho na cara, na boquinha, vem dá bejo, viro a cara, lambuza meu pescoço. verde, engata a marcha.

6

reconheço as rua, os lado da obra, será que ela qué i pra obra? musiquinha de rico, cedê-sade diz a capinha de plástico riscada de gilete, carro quente, painel azuzinho, ela acende cigarro de mulé, cumprido cum barra de florzinha, puxa fundo, põe na minha boca, trago, o cigarro falha, o ar escapa antes do gosto, ela aponta o porta luva, abre a portinha, tira um pacotinho, joga no meu colo, o pau pensa que é coele e vira de lado. abro, chero, dechavado, madera de lei, seguro o cigarro co canto da boca, fecho miúdo o olho, seda, tiquinho não, charola, vela, carco fumo, chero bom, dechavado, enrolo quase seco, bazu pra sê bom tem que sê assim, num pode sê babado senão apaga fácil, cachorrão sabia das coisa, cum dona assim é mostrá perfeição, vai devagá, vira aqui e lá, enrola, que isso dona? buchinha na bolsa, capa de cedê-sade, giletinha, vermelho, divide quatro carrerinha, limpa o nariz, passa o cedê-sade, pega o bazu, acende, fuma fundo, fuma grosso, notinha de cem de canudo, lisinha, fungo fundo, agulha no fundo da cabeça, vem a gosma da barriga, a boca enche de espuma, engulo amargo, vontade de ri, porque é que a dona dirige? devia sê eu, sô o macho, se o pato dirige, eu dirijo, passa a bola dona, isso de cem fica comigo, discreto, cachorrão disse. fico segurano o cedê-sade, dô ua bola que a cabeça enche, rio, ela ri, tira o vidrinho azul da bolsa, pinga no olho, dá pra mim, friozinho. entra numa rua estreita, escura, rua da obra, vira pra direita, parece que vai entrá no cantero, faz um balão, entra na boca do prédio da frente, a garage abre, o carro escorrega macio pro escuro, passa entre os carrão, esse lugá é a festa. pára, desliga o som, desliga o moto, puxa a chave, pega a bolsa. pulo do carro, podia catá a dona, levá o carro, dá a dica, meia hora tudo feito, fim de obra, pedra da preta e até cervejada co megadete, bebe aí mais forte camarada, mas cachorrão disse pra i lento, pegá confiança, tê paiência, tem paciência mais-forte.

7

botão verdinho, elevadô, rápido, ela entra, aperta o doze, cum anelzinho de roda. olho o espelho, olho vermelho, cara de chapado, me abraça. enfia a língua na minha boca, macia, chero de suó, perfume e cigarro, o pau emborracha, aperto a bunda da dona, grudo na cintura dela, ela me empurra, o elevadô pára, a porta abre, ela sai, a luz acende sozinha, todas as porta são igual, a dona tira um sapato, depois otro, salto fino, pé pequeno, fica mais baxinha, dá risada, o tempo todo, abre a bolsinha em frente a qualqué porta, pega a chave, tenta enfiá no buraco, cato a dona por trás, encosto a pica, aconchego a encochada, ela se encolhe, rebola, tenta escapá, tateia a chave que nem cega, seguro a cintura, fungo a nuca. ela se bate coa porta, num consegue abri, puxo pela cintura, ergo a perna, chuto bem perto da fechadura, a porta estala, bato de novo,a porta abre, a dona escorrega dano risada pelo buraco escuro, vô detrás. escuto ela caí nalgum lugá, procuro o botão da luz. ela dá risadinha, sempre risadinha, acendo, sala grande, pé direito alto, ela estendida no meio da sala, dá risadinha, sempre a risadinha, levanta, a camisa quase toda aberta, saia erguida, as perna boa, peito firme, liga o som cheio de luzinha azul, que nem do carro, deve custá tanto quanto, mais luz, mais pedra, mais cedê-sade, num dá pra ficá loco nesse sonzinho, aquele cara do eici é que é bom, bate firme, a preta gosta, diz que bate que nem as pedra, puta, a grana do megadete, quantas pedra dá esse som? ela pega uma garrafa, dois copo, serve o dela, bebe tudo, passa a garrafa, o copo, vai saindo, deixa as ropa pelo caminho, some. pego a garrafa, que copo que nada, puro, bebo um trago, será que tem eici? eu é dona, que nem tem nada que preste aí pra escutá, esse cedê-sade trinca as bola, podia ligá pra preta, chamá ela, ela traz os eici. trago, bom isso, mas a garrafa é grande demais pra virá, num é blequeleibou, ja, jaq, jaque, jaquedaniéus, jaquedaniéus, será que tem um bazu por aí, a dona tá demorano, milhó, aí dá pra aproveitá, trepá agora era porra, ainda mais ia tê que dá um jeito de escondê a tatuage, aquele troço feito a prego e tinta de caneta coa letra de cachorrão, dilma, o coração torto cum flecha, e a preta nem deu bola. mais forte, eu quero que alguém cuide de mim, que me dê algo pelo amô, cê é muito coitado, nem tem nada, dona adelaide diz que homem tem que provê a gente, disse pra eu num sê burra e num ficá cum cadeiero que nem você que é atraso de vida, eu sô bonita, é só eu arrumá os dente, dona adelaide disse que seu cristóvão me acha bonita, seu cristóvão é home fino, num é que nem você, bebe bebida importada, fuma cigarro de grife, veste terno, é cheroso. filho da puta, a preta deu o tombo depois, fodeu seu cristóvão e dona adelaide, tudo junto, aí deu a dica pra megadete a troco de pedra, abriu tudo na moita quano eles viajô, deu no pé, sumiu, aí caiu de vez na vida, mas nem agora dá valô, dilma do caralho, mas é gostosa a bicha, barriga de corda, teta dura, bico preto, mete sem folga. a dona tá demorano mesmo. i aí, buchinha, deve sê da boa, gente rica num faiz fiado na boca. coisa fina mesmo, cai fina na ponta da língua, cade o cedê-sade essa musiquinha até que é boa, musiquinha em tudo que é lugá, trago no jaque, bom, esse pó esfria a gengiva, cadê a notinha de cem. aquela coisa boa na parede do fundo da cabeça, é, que diabo de barulinho é esse, será tuim-tuim da coca? diferente, não, parece telefone tocano, isso é telefone tocano, tomara que a dona num me apareça agora, tocô, tocô, tocô e parô, belê. acabô o cedê-sade, colocá otro pra quê? num tem nada de bom, vai o mesmo, que porra, que botão aperta no meio dessas luzinha azul, cadê o plai? tá aqui!

8

essa musiquinha até que num é ruim, cum goró até que num vai mal, tá demorano a dona, será que tá no telefone, o deve de te ido tomá banho, rico toma banho toda hora, vai vê cagô, o fez cocô, rico num caga, dona bonita nem faz cocô, tem buraquinho só pra enfiá o pau, bom isso aqui, sê rico deve de sê bom, coçá o saco o dia todo dizê que é empresário, que será que essa dona faiz, deve de tê marido bacana, aquele tio da fotografia, do lado dela, é, essa gente fica tudo chapado pra sê feliz, só casca, sem essência, que nem diz cachorrão, de onde será que ele sabe tanta coisa? deve de sê aquelas putinha de faculdade que ele come. que porra de barulho é esse, acho que chegô alguém, milhó chamá a dona, porra, como esse apartamento é grande, será que a dona se escondeu e qué ficá brincano, tem mulé que gosta de brincadera desse tipo, cachorrão disse que conhece mina que curte apanhá e que mijem nelas, eu é rosa, que tipo. é, porta do quarto encostada, milhó batê antes, toque toque, é, mas num responde.

9

e aí dona acho que tão bateno na porta, tá ligada? é, caída na cama de bruço dona, tá quereno, é, sê enrabada? é, nos cano dona, que que é isso? agulha fura. num é só deus que mata dona. então tá, vamo erguê a sainha, que se foda a porta, que isso dona, tá cum frio? tá gelada, num se mexe, vem cá dexa eu ajudá, meto a mão aí no buraquinho quente. QUE PORRA É ESSA DONA? SAI FORA, FICA AÍ VIADO PELA-SACO DO CARALHO, VOZ DE PATO DO CARALHO. sai fora, rapá, qualé, qualé, calma, calma, num puxa o ferro não, sinhô, num foi nada, num fui eu, num senta o dedo não sinhô, tipo eu tava só tomano uns goró, tá ligado? tipo, não, não, NÃO...(tric trac bum para todo lado!)

quarta-feira, outubro 04, 2006

lúdico e simples vejo a minha primavera que se afasta quando setembro chega, e a minha juventude tardia cansada de indagar se resigna, não há nada mais a dizer, nem mesmo “vem”. mas, como partir o amor sem adeus, somente a golpes de machado para um fogo que trepida e não mais aquece. meu coração cansou de preces. nosso canteiro se cobriu de ervas daninhas e quem diria que este universo que eu julgava nosso era apenas meu? seu corpo coberto de pétalas lavradas em noites de amor, agora é pasto de bestas. e o que posso dizer? que nossos dias de sol nunca serão traídos? nunca serão enganados? na originalidade das palavras que desenhei em seu corpo e que agora lhe são gastas, os versos evanescem na beleza, beleza que era completa, por isso sublime, por isso divina, cuja vaidade da carnalidade derrubou os anjos do céu, e agora de olhos enormes contemplo o breu, nada mais desejo. quando percebo teu rosto sem olhos, teu corpo sem toques, pois coberto, tua nudez de mim se perdeu no silêncio de girassóis. vago escondido da minha bem amada que eu não sei bem se amei. por isso me condeno ao degredo e vivo apenas uma estação, sem outono, sem inverno, sem primavera e sem verão.

hetaera esmeralda

na estrada intransitável de setembro
batem os cascos seus olhos pequenos
num bocejo recém acordada a bela ensaia
pele talhada a noitadas cegas na sina obscena

se na paixão homicida a discórdia embebida
em seu sangue o mais doce do mel
feita para ser amada do mesmo amor
que não aparecia na casa que tinha em seu eu

nos escombros de sua morada a erva daninha
em seu inferno ninguém adivinha porque viu
noutros olhos à esquerda perdida
na selva de cinzas de um amor ateu

terça-feira, outubro 03, 2006

quisera conseguir que de mim se fora o amor – ou isso que eu chamava amor e era outra coisa, ou esta coisa que não sei chamar e ainda permanece em mim, intocada. com minhas próprias unhas arranquei nacos de minha alma nua, para sobreviver à vida com entranhas e poesia. então veio a loucura. escavei um abismo em meu deserto vazio, verti meu sangue e minha esperança, num sonho que eu julgava infindo, me atirei no abismo para afogar as mágoas e envenená-la com meu pior veneno. mas a areia não drenou meus tormentos, nem foi remédio para minhas feridas e morri uma vez. depois vaguei pelo meu mundo, à sua procura, mas encontrei apenas arquipélagos povoados de demônios, terras dentro de mim que eu não conhecia, medo, um lado sombrio de solidão impronunciável, frio e a ausência dela, rugindo em tormenta sobre meus sentimentos, minha força foi meu pior momento, porque dela veio toda a sua infinita fúria, só me restava ser fraco e me deixar morrer pela segunda vez, uma pobre criatura – sobretudo quando a vi em companhia e ao alcance de minha mão havia apenas fantasmas de uma lascívia vã, insípida e escorregadia. fugi para o mar de meus devaneios e invoquei o pior dos curandeiros, o mais cruel dos feiticeiros, para advir uma materialidade qualquer, em meu desespero renunciei ao espírito, eu queria apenas libertar-me em carne, configurar-me em morte, ainda que tardia. uma morte que me arrancasse das mortes anteriores e me restituísse àquilo que era meu e eu não sabia. mas a terra se me negou e na algaravia das ondas meu destino amarrou-se a guias, cegos por natureza e de vida bravia. condenei-me sísifo ou prometeu, quem saberá o que seria. eis a minha sina, lembrar-me dela todos os dias.

há muitas léguas meus olhos
não viam o cais de meus vícios
ódio amor sexo
maré quase perfeita
em meus dias de tédio

mas a pedra em que tudo batia
deu ao céu um manto vermelho
não houve trégua

de tanto mar
tal sangue
entre as ondas o vento cerzia

minha sina nas tábuas
o sal purgando o azul
e a vida que me vinha